Como a luz afeta sua saúde?

27 de julho de 2021

A descoberta de que alguns fotorreceptores nos olhos eram mais sensíveis à luz é extremamente recente, confirmando teorias que apontavam como os olhos não estavam atrelados apenas à formação de imagens, mas sim a percepção da luminosidade. Somando-se a outros estudos que buscavam compreender a relação da visão humana com a regulação do metabolismo, um novo e ainda recente capítulo na história da iluminação da arquitetura se iniciou.

Durante um período considerável de sua história, o ser humano teve como fonte de iluminação após o entardecer o fogo, por meio de lâmpadas de combustão, velas, fogueiras ou tochas. Estas técnicas foram aprimoradas com o tempo, com o uso de novos materiais que as permitiam ser mais duráveis e mais intensas. Posteriormente, a descoberta e o estudo da eletricidade auxiliaram no desenvolvimento de outros métodos de iluminação, como a lâmpada incandescente, artificio que mudou radicalmente o modo de vida do indivíduo uma vez que permitia que o dia fosse efetivamente maior, possibilitando exercer uma série de atividades além do pôr do sol.

Esta mudança tecnológica obviamente não acompanhou a biológica, muito mais lenta. A biologia humana continuava tendo a mesma relação com a luz que sempre teve, e que só iria ser estudada mais à fundo pela medicina no Século XX. Considerando que o ser humano, em seu ciclo de sono e vigília tem uma série de atividades metabólicas que se repetem todos os dias, conceituou-se a existência de um ciclo natural do corpo, o Ciclo Circadiano. Uma vez com esse entendimento, cientistas buscaram compreender quais relações de sensibilidade mediam o entorno e a nossa biologia, e a resposta definitiva veio apenas no início do Século XXI.

A descoberta do Fotorreceptor ipRGC mostrou que o olho humano tem a percepção de luminosidade e as informações captadas são enviadas diretamente as áreas do cérebro responsáveis pela regulação dos ciclos do corpo humano. Esses fotorreceptores têm uma proteína chamada Melanopsina que reage à luminosidade. Assim, percebeu-se que o grande fenômeno natural mediador do ciclo circadiano é a luz. Isso levantou várias questões em meio a arquitetura, pois os cálculos para Luz Solar e Luz Artificial são, desde o início do Século XX, voltados para garantir um conforto visual para a execução de tarefas, evitando desconfortos como reflexos e ofuscamento, mas pouco se pensou em como as tonalidades e intensidades ao longo do dia podiam regular a nossa saúde.  Tornou-se claro que apesar de simples cálculo, os métodos tradicionais fundamentados na iluminância desejada num plano de trabalho podem ser limitados se a métrica a ser considerada é a de bem-estar e bom funcionamento do corpo humano.

Porém, uma ressalva deve ser feita. Sendo esta descoberta muito recente, atualmente existem apenas dois métodos que consideram estas características dedicadas à saúde, que geram resultados de cálculos muito distintos entre si.

O primeiro, trata-se do Estímulo Circadiano, desenvolvido pelo Light Research Institute, no qual calcula-se o estímulo do olho humano em 3 espectros de cores utilizando a quantidade de Lux emitida pela luminária num plano vertical, de preferência de forma indireta, utilizando também dados a respeito do espectro de cores emitido pela luminária. O segundo, o Luz Equivalente Mel anóptico, por Lucas et al., que multiplica essa iluminância vertical por dados pré-definidos de acordo com tipos de luminária pré-estabelecidos, sendo um método um pouco mais expresso e é o método usado pela Certificação WELL, do Well Building Institute. Os resultados de ambos geram valores adimensionais que são comparados em escala. Cada hora do dia em um valor recomendado para um tipo de tarefa, e o valor obtido no cálculo deve atender em algum nível essas necessidades.

Os resultados obtidos são distintos, mudando principalmente para tons de branco mais frios, tornando-se clara a necessidade de aprofundamento dessas metodologias antes de seu emprego de forma eficiente na indústria. Outro grande problema é a precariedade e ausência do cálculo de iluminância vertical nos softwares de Lighting Design no mercado, bem como a ausência de dados do espectro de cores das luminárias por parte dos fabricantes, o que torna ainda mais difícil se a procedência dos LEDs, caso utilizado, for variável ou de má qualidade.

Ainda assim, atualmente, fabricantes comercializam luminárias com branco sintonizável que permitem alterar, de forma automática ou por ação de um operador, as propriedades de cor e intensidade luminosa de seu facho para promover um estímulo circadiano de maior qualidade, principalmente visando simular a iluminação solar para locais onde ou não seja possível, ou não seja desejável que ela incida, como UTIs, Leitos Hospitalares e Berçários. Esse sistema trabalha com iluminações com maiores espectros de azul, levando a um branco mais frio nas horas de maior trabalho do dia, e ao final do dia, mudam para um amarelo cada vez mais acentuado, com maiores quantidades de espectro vermelho, visando a liberação de melatonina.

Esses estudos mostram como os conhecimentos da biologia vem nutrindo diversas áreas da ciência e da tecnologia. Novas descobertas sempre poderão resultar em ações práticas, mas dependem de um tempo de desenvolvimento necessário para que isso aconteça com dados validados.

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